agosto 23, 2009

Modernismo: a ENTRADA

"Os Sapos"


Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

- "Meu pai foi à guerra!"

- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: - "Meu cancioneiro

É bem martelado.

Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos!

O meu verso é bom

Frumento sem joio

Faço rimas com

Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A formas a forma.

Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:

- "Meu pai foi rei" - "Foi!"

- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"

Brada em um assomo

O sapo-tanoeiro:

- "A grande arte é como

Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.

Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,

Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas

(Um mal em si cabe),

Falam pelas tripas:

- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,

Lá onde mais densa

A noite infinita

Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,

Sem glória, sem fé,

No perau profundo

E solitário, é

Que soluças tu,

Transido de frio,

Sapo-cururu

Da beira do rio




Manuel Bandeira
_____________________________________________

"Os Sapos" causou uma grande (não foi lá muito boa) impressão na plateia na Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal... O povo ficava dizendo: Não foi...Foi... Não foi...
O Modernismo não causou uma boa impressão... Mas foi um ótimo impressionador e ainda o é.

Oswald de Andrade declarou, comentando o que havia sido dito por Graça Aranha:
"Bestética na Arte Moderna"

2 comentários:

  1. Eu li, recentemente, "Obra imatura",
    de Mário de Andrade.
    Até fiz uma postagem sobre o livro
    lá no doce de lira.

    Curioso como romper barreiras,
    inclusive nas artes,
    é algo complicado.
    Nem o próprio Mário
    se julgava bom... (risos)

    Um beijo.

    ResponderExcluir
  2. ... É bastante complicado...


    o interessante é que quando se morre:
    - Isso é tão genial! - dizem tantos...

    _____________________

    Mas é importante a arte renovar-se, sair da regra, entar na regra, moudar-se depois não moldar-se...

    Faz parte da História... Como Hegel mesmo já disse... (dialética)!!! Hoje dizem que é assim... Amanhã é assado!!!

    Beijinhoss

    Adorei seu blog!

    ResponderExcluir

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena." Fernando Pessoa