fevereiro 27, 2010

Clarice, de Benjamin Moser

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Ela mentia sobre a idade que tinha quando veio para o Brasil. Numa passagem já citada aqui, ela usa o itálico para enfatizar que tinha apenas dois meses de idade quando sua família desembarcou. Tinha mais de um ano, porém, como ela bem sabia. É uma pequena diferença - era muito nova, de todo modo, para se lembrar que qualquer outra pátria -, mas é estranha a sua insistência em rebaixar a idade até o mínimo verossímil. Por que se dar ao trabalho?

Não havia nada que Clarice Lispector desejasse mais do que reescrever a história do seu nascimento. Em anotações pessoais redigidas quando estava na casa dos trinta e morando fora do país, ela escreveu: "Eu estou voltando para o lugar de onde vim. O ideal seria ir até a cidadezinha na Rússia e nascer sob outras circunstâncias". O pensamento lhe ocorreu quando estava quase caindo no sono. Sonhara que tinha sido banida da Rússia num julgamento público. Um homem diz que "só mulheres femininas eram permitidas na Rússia - e eu não era feminina". Dois gestos a traíram inadvertidamente, explica o juiz: "1o.: eu acendera meu próprio cigarro, mas uma mulher fica esperando com o cigarro até que o homem acenda. 2o.: eu mesma tinha aproximado a cadeira da mesa, quando deveria esperar que ele fizesse isso para mim".
Então foi proibida de retornar. Em seu segundo romance, talvez pensando no caráter definitivo de sua partida, ela escreveu: "O lugar onde ela nascera - surpreendia-se vagamente de que ele ainda existisse como se também ele pertencesse ao que se perde".

Trecho de "Clarice," de Benjamin Moser (Editora Cosac Naify, tradução de José Geraldo Couto, 648 páginas.

Fonte: OGLOBO





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Fabio Silvestre Cardoso • São Paulo - SP



Uma odisséia, similar às cativantes e não menos pungentes viagens que transformam a vida de seus tripulantes. É assim que o leitor de Clarice,, biografia assinada por Benjamin Moser acerca daquela que é, para todos os efeitos, a mais simbólica autora brasileira do século 20, Clarice Lispector. Editada pela Cosac Naify, Clarice, revisita a vida da escritora ucraniana radicada no Brasil e, de quebra, estabelece um novo patamar no que se refere aos perfis, ensaios e narrativas sobre as vidas dos escritores. Saem de cena os detalhes mais pontuais, espasmódicos, brejeiros, dando lugar a outro tipo de interpretação, sem medo de parecer original demais ou de rever as outras leituras acerca da obra do biografado. Isso não quer dizer que Benjamin Moser quer ensinar aos escritores brasileiros como escrever biografias. Cada biógrafo conta com suas próprias técnicas e métodos para apuração. Todavia, até por esse motivo, é necessário reconhecer o diferente quando este aparece. E é justamente o caso de Moser com sua biografia de Clarice Lispector.
A biografia de Clarice Lispector é diferente porque o autor, já nos primeiros capítulos, propõe uma tese como eixo temático de sua história, a saber: a questão da identidade em Clarice Lispector, elemento até então pouco abordado por aqueles que desejavam investigar "que mistério tem Clarice?", como canta a música. Nesse ponto, é bom que se diga, podem existir divergências acerca da validade dessa interpretação. Correta ou estapafúrdia, é necessário conceder ao autor o benefício da dúvida, uma vez que a obra não faz dessa tese algo apenas simbólico. É bastante sério. Não por acaso, as primeiras páginas da biografia remetem exatamente às origens da autora de A maçã no escuro. Para Benjamin Moser, antes de ser escritora, Clarice é uma autora que todo o tempo debateu de forma recorrente a noção de pertencimento. É certo que algum leitor pode imaginar que isso se deve à leitura contemporânea de Clarice, haja vista o fato de boa parte das pesquisas acadêmicas, hoje em dia, lidarem com essa tendência interpretativa. No entanto, é fundamental reconhecer que, no livro, os argumentos utilizados pelo autor são convincentes.
Assim, à primeira vista, o texto de Benjamin Moser pode pecar por pouca objetividade, acusariam alguns aiatolás da narrativa jornalística. É preciso ter parcimônia, ou, mais indicado, não cometer alguns equívocos baseados na leitura de textos nacionais do mesmo gênero. Pois, de fato, biografias escritas por jornalistas brasileiros sobre artistas (?!) locais são combustíveis dessa idéia bruta sobre o modo de escrever biografias. Em outras palavras, deve-se começar o texto com um perfil à maneira das revistas de reportagem, sublinhando os desvios e os pecadilhos; enfatizando as aspas mais bombásticas; e apelando para a revelação mais sórdida sobre a personalidade. Sim, existe a noção de que as biografias brasileiras são excepcionais apenas quando há uma grande descoberta, que, muitas vezes, é apenas um gancho, criado por editores, assessores de imprensa e lobistas do mercado editorial. Em Clarice,, essa tendência inexiste. Talvez por esse motivo alguns tenham escrito que se trata apenas de um esboço biográfico. Em momento algum, cabe ressaltar, Benjamin Moser pretende esgotar o assunto. Malgrado o fato de a própria editora que publicou o livro tenha feito das suas - "uma biografia como você nunca viu" -, as ambições do autor não são tão absolutas, ainda que ambiciosas.



Pertencimento


A ambição reside no fato de que o autor busca associar toda a trajetória de Clarice Lispector à questão de pertencimento, como se sua produção literária refletisse de forma cifrada sua existência plena. Assim, o fato de ter nascido na Ucrânia, ter morado no Recife e depois ter vivido no Rio de Janeiro são aspectos tão essenciais quanto a leitura de clássicos como Crime e castigo, de Dostoievski, O lobo da estepe, de Hermann Hesse, ou a obra completa de Machado de Assis. O autor fundamenta essa tese com base nos depoimentos que compõem a narrativa. Assim, embora não seja refém desse recurso declaratório, é correto afirmar que o escritor faz uso disso quando necessita ilustrar a importância de cada detalhe. Nesse aspecto, cumpre atentar ao fato de que Moser manteve diálogo com as fontes certas, não fugindo da pesquisa de campo - característica associada apenas aos jornalistas e repórteres - para colher tantos depoimentos relevantes.
Afora isso, nota-se, também, que Benjamin Moser, como biógrafo estrangeiro de uma escritora ucraniana radicada no Brasil, entendeu ser totalmente necessária a sua aclimatação nos territórios aos quais a escritora pertenceu. Com isso, em vez de apenas manter a conversa desinteressada com os locais, o autor se propôs a estudar os principais movimentos que desencadearam passagens importantes na vida de Clarice Lispector. O leitor conhece, com isso, as particularidades da cidade natal da escritora; dos pogroms; e do contexto político existente na década de 1910-20, período que antecede o nascimento de Clarice. De forma semelhante, ao tratar de seu período no Brasil, o biógrafo disseca com propriedade os meandros do país que queria se assentar como contemporâneo do mundo, das idas e vindas do governo Vargas e, muito antes disso, de como Pernambuco se constituiu como espaço importante para o desenvolvimento nacional, sobretudo no período do governo de Maurício de Nassau. Aqui, algum leitor brasileiro há de reclamar que, para o público informado, essas informações podem soar repetitivas. É preciso lembrar, todavia, que este é um livro que foi publicado primeiro fora do Brasil, onde poucos conhecem a realidade local.
Mais do que isso, o resgate histórico proposto por Benjamin Moser remete à necessidade de, simultaneamente, situar a biografada no tempo e no espaço, como resultado das tensões de sua época, e dar sentido às decisões e escolhas feitas em cada momento de sua trajetória. Posto de outra forma, é como se o autor dissesse que as condições históricas e culturais também foram elementares na formação do gênio de Clarice Lispector, detalhe que não necessariamente é recorrente nas diversas interpretações da obra da autora - o que existe, e o biógrafo comenta, é certo apelo ao "místico". A propósito, este parece ser um campo vasto para a exposição da sofisticação literária de Moser. E ele não escolhe um momento exato para isso, embora a biografia seja construída de forma linear. Em diversos momentos do texto, Moser resgata um trecho, articula com declarações concedidas em várias entrevistas e propõe uma reflexão sobre o significado de cada obra, como que um esboço interpretativo.
Em que pesem essas características de estilo e de método, o biógrafo não descarta suas convicções em relação à personagem que dá título a seu livro. A Clarice Lispector de Benjamin Moser lidou com seus conflitos a todo tempo, não deixando escapar nenhuma dessas complexidades. Assim, o fato de seus livros ainda parecerem algo misteriosos para boa parte dos leitores não deve reforçar o aspecto místico que ronda a personalidade da autora; antes, esse detalhe deve ser encarado como desafio para o alcance de uma abordagem mais densa e mais sofisticada acerca do significado da literatura. Em certa medida, foi dessa forma - resgatando sua identidade, interpretando sua trajetória literária; e indicando seus dilemas - que, diante da esfinge Clarice Lispector, Benjamin Moser não foi devorado.




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Fonte: Rascunho

fevereiro 19, 2010

Sonhar



É o novo blog de Alanny, aquela do Entrelinhas - aliás a mocinha perdeu a senha.
Sim, ela fez este blog... E como já disse a ela: está se formando cronista!


Amar, desamar... Mas não deixar de tentar!







Hoje, quinta-feira, dia 18/02/10 às 19h12, eu aqui... Pensando nos sentimentos e no que eles podem nos trazer. Bleh! Como somos vuneráveis a eles... Como temos medo deles, não é mesmo? Sentimentos confusos, dolorosos, complexos, às vezes, inúteis.


É difícil falar de sentimento, cada um sabe o que sente de verdade. Sabemos que existe aquele pontinho vermelho com apenas uma função dentro de nós, justamente a que nos mantém vivos. Aquele que bombeia nosso sangue.. este que carrega o sentimento. O sentimento que corre em nossas veias. O amor, a paixão, o carinho, a felicidade, a amizade, a raiva, o ódio, a mágoa, a decepção, o sofrimento, o desamor... Dentre tantos outros que desconheço. Incrivelmente cada um deles tem um poder diferente sobre nós. Estremece todas as nossas bases, confundem todos os nossos pensamentos, todas as nossas ações. Choramos, sorrimos, sonhamos... E no fim? Ou melhor... Quando tem um fim? Mesma coisa. Choramos, sorrimos ou sonhamos...


O melhor de todos, para mim, é a amizade, isto é, quando é forte, verdadeira, sincera, única. Por cima de pau e pedra, juntos pro que der e vier. Conselhos, broncas, diversão, ih! É a melhor coisa.
 
 
Confira o resto no blog dela: Sonhar

fevereiro 17, 2010

Falar ou não falar? Sexo, eis a questão!

É, parece que peguei o hábito de colocar meus trabalhos de escola no meu blog.
Minha professora de Redação, Paulinha... Pediu para que procurássemos uma música que pudesse ser tema de uma crônica, adorei o fato de poder estudar crônica, porque faz um tempo que ando desligada deste gênero, pois estava investindo e ainda estou em contos... Mas fiz uma croniquinha - melhor assim do que cronicazinha, afinal estaria desvalorizando meu trabalhinho.

Certo, aqui está:

Sexo – Ultraje a Rigor (Rogério/ Maurício)
Sexo!



Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Eu quero Sexo! Me dá Sexo!







Hoje vai passar um filme na TV



Que eu já vi no cinema



Êpa! Mutilaram o filme



Cortaram uma cena...







E só porque



Aparecia uma coisa



Que todo mundo conhece



Se não conhece



Ainda vai conhecer



E não tem nada de mais



Se a gente nasceu



Com uma vontade



Que nunca se satisfaz



Verdadeiro perigo



Na mente dos boçais...







Corri pr'o quarto



Acendi a luz



Olhei no espelho



O meu tava lá



Ainda bem



Que eu não tô na TV



Senão ia ter que cortar...







Ui!



Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Eu quero Sexo! Me dá Sexo!



Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Eu quero Sexo! Vem cá Sexo!







Bom! Vá lá, vai ver



Que é pelas crianças



Mas quem essa besta pensa



Que é prá decidir?



Depois aprende por aí



Que nem eu aprendi...







Tão distorcido



Que é uma sorte eu não



Ser pervertido



Voltei prá sala



Vou ver o jornal



Quem sabe me deixam



Ver a situação geral



E é eleição, é inflação



Corrupção e como tem ladrão



E assassino e terrorista



E a guerra espacial



Socorro!...







Eu quero Sexo! Me dá Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Sexo!



Me dá Sexo! Me dá Sexo!



Eu quero Sexo!







Sexo! Eu quero Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Me dá Sexo! Me dá Sexo!



Eu quero Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Sexo!







Sexo! Eu quero Sexo!



Como é que eu fico sem Sexo?



Vem cá Sexo! Senta Sexo!



Vem cá Sexo! Me dá Sexo!



Solta Sexo!





Falar ou não falar? Sexo, ainda és a questão!





Ultraje a Rigor é uma banda que nasceu nos anos 80 a qual a censura perturbou bastante, afinal letras como Inútil e Sexo!! são bastante contundentes.
Sexo, deveras me chamou a atenção, afinal até hoje existe certo tabu com tal questão, mas poxa, sexo não é a “coisa que todo mundo conhece e se não conhece ainda vai conhecer”? Então por que há tanta máscara ao redor do sexo, sexualidade?
A resposta que vem de supetão à cabeça é: MEDO. Os pais têm medo de contar para os filhos e esclarecer; eu sei que deve ser mesmo difícil, mas se os pais não contarem, as crianças vão aprender de forma errada, desse jeito pode acontecer de haver problemas futuros, na música existe o trecho: Depois aprende por aí/Que nem eu aprendi.../Tão distorcido/Que é uma sorte eu não/Ser pervertido.
Uma coisa tão necessária à vida – mesmo após a inseminação, quem não quer fazer à moda antiga? –, a saúde... Tabu de mais... Isso não é legal, afinal como é que se fica sem sexo?
Quero ressaltar também a crítica que a música faz com relação ao contexto sócio-político: Quem sabe me deixam/Ver a situação geral/E é eleição, é inflação/Corrupção e como tem ladrão/E assassino e terrorista/E a guerra espacial/Socorro!... Eu penso quanto a este trecho: Cara, tem tanta coisa ruim no nosso País e olha só o que vão cortar: SEXO!! Pois então, cortar uma cena de sexo e não impedir a corrupção? Realmente, é para revoltar; impendem algo relacionado à vida de tantos animais e não impedem coisas extremamente piores, horríveis: corrupção, violência, inflação.
Esta é uma boa música para se pensar e refletir, né?


OUÇA A MÚSICA SEXO!!

fevereiro 13, 2010

Canção do exílio às avessas

Eu estava fazendo uma pesquisa para a aula de Literatura... Além de criar minha canção do exílio tive que achar outras, eu adorei essa de Jô. Para entender é necessário saber do contexto político da época.
Para quem se esqueceu, não presenciou:
Dinda é a mansão de Collor e dizem que lá havia até água mineral em um dos lagos, PC = Paulo César Fárias, para saber mais sobre ele: WIKIPÉDIA



CANÇÃO DO EXÍLIO ÀS AVESSAS

Minha Dinda tem cascatas
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem coqueiros
Da ilha de Marajó
As aves, aqui, gorjeiam
não fazem cocoricó.
O meu céu tem mais estrelas
Minha várzea tem mais cores.
Este bosque reduzido
Deve ter custado horrores.
E depois de tanta planta,
Orquídea, fruta e cipó
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem piscina,
Heliporto e tem jardim
Feito pelas Brasil’s Garden
Não foram pagos por mim.
Em cismar sozinho à noite
Sem gravata e paletó
Olho aquelas cachoeiras
Onde canta o curió.
No meio daquelas plantas
Eu jamais me sinto só.
Não permita Deus que eu tenha
de voltar pra Maceió.
Pois no meu jardim tem lago
Onde canta o curió
E as aves que lá gorjeiam
São tão pobres que dão dó.
Minha Dinda tem primores
de floresta tropical
Tudo ali foi transplantado
Nem parece natural
Olho a jabuticabeira
Dos tempos da minha avó.
não permita Deus que eu tenha
de voltar pra Maceió.
Até os lagos das carpas
São de água mineral.
Da janela do meu quarto
Redescubro o Pantanal
Também adoro as palmeiras
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC com xodó,
não permita Deus que eu tenha
de voltar pra Maceió.