dezembro 26, 2009

Pensamentos que me contém

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa
 
Alberto Caeiro

Um olhar de Alberto Caeiro veio-me como um raio, depois de ler um texto bastante árcade...
Eu, tão habituada a louvar os versos de Álvaro de Campos, ouço seu mestre em meus ouvidos e penso nalguns versos:


Viver é, muitas vezes, somente olhar sem esperar mais nada além do que se vê.
Pois aquilo que se vê é o que é
E talvez o que é
seja o melhor, seja o que tem que ser


dezembro 25, 2009

Agradecimentos...

Este pedaço - maravilhoso pedaço - de ano que passei com todos meus caros amigos blogueiros/escritores/pintores/tudoquesepermiteaarte... Foi maravilhoso. Gostaria de agradecer a todos pelas visitas, seguimentos, comentários... Gosto muito quando consigo um tempinho para ler as coisinhas maravilhosas que se encontram pelos outros mundos, mundos diferentes, às vezes, semelhantes aos meus. 
Tudo que vivemos, amigos blogueiros, foi de extrema importância para meu processo de evolução. As coisas que li influenciaram-me, mudaram-me.
Como está no meu blog: a ARTE é recorte constante... 
Aqui, recortei-me, reinventei-me. 
Muito obrigada a todos.
Que o próximo ano seja repleto de muitas emoções, versobrincadeiras, encontros e arte, muitíssima arte para todos meus caros blogueiros. 


Beijos,
Ry.

dezembro 20, 2009

Voar...

Segue voando por outros lugares
Segue e conhece outros cantares
Não se fixe
Não se enrede
 Desvencilhe-se

Entregue-se
ao simples voar... 



Apresentação de Psykhé - MEU NOVO BLOG

Mais um convite... O nome é Psykhé 

Um blog feito para as questões de alma e questões da alma.
 
 
_______________________________________________________________


Se eu tivesse respostas, mas minha alma anda muito confusa; minha alma tem o hábito de vagar sem destino por caminhos que encontro, por modelos...Porém não se decide. Não se fixa. Não parece gostar de nenhum modelo. 
Minha alma não pede refúgio, nem acalanto - não agora - minha alma pede caminho e vontade de segui-lo, minha alma pede destino.



William Waterhouse
 
Entre: Psykhé

dezembro 15, 2009

Mistère

Um novo blog está nascendo...


E  N  T  R  E  L  I  N  H  A  S 



Misteriosamente, seguir.

Recíproca, absolutamente, recíproca. Às vezes injusta, mas só às vezes. Sonha não muito alto, mas sonha. Capaz, completamente, capaz. Cheia de vontades, porém, querer não é poder. Reservada, não que pareça ser, mas é. Conhece todo mundo, mas não conhece ninguém. Todo mundo a conhece, mas não sabe como, exatamente, é. Julgada, mas também julga. Estudiosa, ou não. Carinhosa, toque brando pelo rosto. Beijos, sensualmente, pela boca. Abraço, brutalmente, delicioso. O que é viver? O que é amar? Não sabe. Apenas vive, e apenas ama. Curiosa ao que interessa, e se interessa, quer saber. Quando sabe? Nenhum espanto, a capacidade das pessoas está além de suas imaginações. Imagina, não muito, não gosta de ilusões. Sonhadora de pés no chão... Será que existe? Confuso. Entrelinhas. Alegria é seu sobrenome. Caso a tristeza bater na porta, pede pra dizer que não está. Pois está ocupada demais para ficar triste ou pensar nas coisas ruins da vida. Novamente confuso. Como ela consegue? Nem ela mesma sabe, só sabe que é assim. Dançar faz parte, intensamente, da sua vida. Acha que é uma arte. Suavemente ela dança pelo salão, encanta todos à vista. Gestos brandos nas mãos, passares, sedutores, nas pernas... Nas suas lindas pernas. Doce olhar, aparentemente. Sedutor em suas extremidades. Ela existe? Sorri ao perguntarem, porém, não os responde. Qual é o mistério? Cautelosa segue. Intromissões? Acontecem, porém, não são admitidas. Regras? Há uma: não as seguir. Quem é ela? Aquela que apenas é, sem explicações.  




Entre: E n t r e l i n h a s

dezembro 13, 2009

Felicidade Clandestina


Clarice Lispector
O Primeiro Beijo
São Paulo, Ed. Ática, 1996



Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. 

Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não 

bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que 

qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
 Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


novembro 29, 2009

Sou delírios


“Não pondero, sonho; não me sinto inspirado, deliro”. 
Fernando Pessoa




Desenho de William Blake - O Vendaval dos Amantes, 1824-27


Sou uma ilusão
Impressão – talvez – derradeira
Coisa primeira de sonhos infantis
Sou delírios; nunca fatos
Mas posso ser atos
De um ator gritante
Sou gigante
Bebo: deletério que corrompe
Aquilo que ainda chamam de alma
Aquilo que os gregos nomearam psiquê

Penitência atroz:
Não vivo,
Sonho o inalcançável
Sonho não sonhar diferente
Todos os dias

Lucas Betancourt





 

novembro 28, 2009

Encadeados caminhos











Enya






No escuro, só uma vela


Revela minha preocupação:

Solidão que não cessa

Confessa-me a exaustão

Não se pode extinguir

Mentir é preciso para ir

Prosseguir no destino:

Fino caminho de minha ilusão

Coração é preciso encadear-se

Concatenar-se à imaginação




novembro 22, 2009

desinformação informada

Estudo mostra que apenas 7,5% dos brasileiros compram obras de literatura


De Agencia EFE – Há 1 dia

Rio de Janeiro, 21 nov (EFE).- Apenas 7,47% da população brasileira compram livros não didáticos e destinam à literatura o equivalente a 0,05% da renda familiar, segundo um estudo divulgado neste sábado por editores reunidos no Instituto Pró-Livro.

O pouco orçamento destinado à leitura se reflete em que 60% dos brasileiros nunca abrem um livro e, quem tem o costume, lê 1,3 obra literária ao ano, segundo o estudo, baseado em dados oficiais.

A taxa de leitura no país aumenta para 4,7 exemplares por ano incluindo as obras pedagógicas e didáticas.

Segundo o estudo, 75% dos brasileiros que se consideram leitores afirmou na enquete que sentem prazer na leitura, e o resto admitiu que só lê por obrigação.

A média de leitura dos brasileiros é dez vezes inferior à dos Estados Unidos e quase a metade à da Colômbia, país onde é lida uma média de 2,4 livros por ano, segundo as mesmas fontes.

O estudo indica que, no Brasil, 21 milhões de pessoas são analfabetas, que estão incluídas nos 77 milhões de habitantes considerados não leitores, e 95 milhões leem ativamente, segundo dados de 2007.


Fonte: Epa

novembro 21, 2009

Rede

REDE


                   Emboladora do sono...
                   Balanço dos alpendres e dos ranchos...
                   Vai e vem nas modinhas langorosas...
                   Vai e vem de embalos e canções...
                   Professora de violões...
                   Tipóia dos amores clandestinos...
                   Grande...  larga e forte...  pra casais...
                   Berço de grande raça.


S                                  A
U                           S
S                  N
P    E


Guardadora de sonhos
Pra madona ao meio-dia
Grande... côncava...
Lá no fundo dorme um bichinho...
—  Balança o punho da rede pro menino dormir.


Extraído do Livro de Poemas
Jorge Fernandes

Nasceu um Poeta!

Foi numa tarde
O sol , no acaso , tingia o poente
De sague, de cinza,
De cores tão tristes,
Tão tristes demais!
                             – Oh feios augúrios!
                             Pro Jorge ao nascer!

Sofria num quarto,
Um ente querido,
As dores do parto,
De um parto infeliz!

                             Nos panos do leito
                             A cor do poente!...
Mais tarde, era noite,
Já noite fechada,
Ouviu-se uns vagidos
Aflitos! Aflitos!
– Meu Deus que será?..
                             E fora rezavam
                             Baixinhos louvores,
                             A Nossa Senhora
                             do Parto e das Dores!



Jorge Fernandes



Extraído do livro:
Jorge Fernandes - O viajante do tempo modernista
obra completa.

Organização: Maria Lúcia de Amorim Garcia
Editora: Rn Econômico

__________________________

novembro 02, 2009

Sacrifício


Um dia eu fui brincar num bosque e encontrei uma flor...

... Ora, que importância teria? Um bosque: tantas flores.

Mas a flor era... Era uma flor como todas as outras. Admito.

Mas ao invés de ter ido ao seu encontro ela me encontrou.

Pena que para vir encontrar-me ela teve que parar de viver como as outras tantas flores do bosque.

outubro 31, 2009

Aquela porta ou o cômodo escuro

E se eu te dissesse que já entrei por aquela porta – se eu te dissesse conscientemente. Posso não decifrar teus pensamentos, mas eu já entrei e descobri (mesmo assim não entendo).

Talvez tenha sido você o causador de minha entrada. Deixou-a semi-aberta. No entanto, não decifrei teus pensamentos. Será que quem evita sou eu ou você? O inconsciente. Talvez mais consciente do que a consciência.
Acho que vi os teus olhos... Eles olharam os meus quando eu entrei naquele cômodo escuro.
O cômodo era de uma escuridão que cativava como se fosse... Não há palavras.
Talvez o ato de não ser ou ter nada naquele momento foi o melhor ato. Entrei naquele lugar para descobrir, achando que já sabia de algo. Saí daquele cômodo consciente de que não sabia de nada, muito menos sobre você.
Será que eu posso dizer aquela porta?

outubro 18, 2009

Um menino que me olhava....



Um menino que me olhava


Transformou-se no meu afago


Minimizou a dor que trago


De tão bem que me tratava


 Ah! Como a ilusão foi boa


Não foi só um amor à toa


Pois era o alguém me faltava


Sonho posto em matéria

Feito em lembrança de Ana, a mulher que foi esposa de Euclides da Cunha.

outubro 17, 2009

Hélio Oiticica




Morre parte da arte e da história de Oiticica - ainda nos resta a memória...

Quase completamente destruído por um incêndio na noite de sexta-feira, o acervo de Hélio Oiticica que ocupava uma reserva técnica instalada na casa do irmão do artista plástico era motivo de um impasse entre a família e a Prefeitura do Rio.
Em abril deste ano, herdeiros de Hélio Oiticica interromperam uma exposição do artista no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, que ficaria em cartaz até junho, e retiraram as obras de arte que estavam na reserva técnica do espaço. O motivo foi o não pagamento, pela prefeitura, da segunda parcela de R$267 mil, referente à produção da mostra. A família, responsável desde 1981 pelo Projeto Hélio Oiticica, que cuida do acervo do artista, receberia o dinheiro em janeiro.
O arquiteto César Oiticica, 70 anos, é diretor do projeto, cuja parceria com a prefeitura ocorre desde 1996, quando o centro de arte que leva o nome do artista foi inaugurado.
De acordo com a prefeitura, o atraso no pagamento deveu-se uma auditoria em toda a Secretaria municipal de Cultura devido às mudanças na gestão municipal. Em junho, a dívida foi paga e a exposição "Hélio Oiticica: Penetráveis" foi reaberta para o público e permaneceu em cartaz até o fim de agosto, para compensar o tempo de interrupção.
Na época da suspensão da exposição, os herdeiros ainda retiraram as obras do artista do centro, sob a alegação de que ele não reunia as condições necessárias para o armazenamento de obras de arte. Elas foram então transferidas para a reserva técnica criada pelo projeto, na casa da família no Jardim Botânico. Na época, César Oiticica declarou:
- O centro não tem desumidificação, tem um banheiro dentro da reserva técnica, o que vai contra todos os padrões museológicos. Sabemos que a prefeitura não tem condições nem verbas neste momento, mas não é um problema para a gente cuidar do acervo.
Desde então, os responsáveis pelo Projeto Hélio Oiticica e a Secretaria municipal de Cultura negociavam uma nova parceria, até o momento sem sucesso.
À rádio CBN, a secretária de Cultura do município do Rio de Janeiro, Jandira Feghali, contou ter chegado a propor um comodato à família do artista, como faz o MAM com o acervo do colecionador Gilberto Chateaubriand, para que essa obra ficasse exposta permanentemente no Centro Cultural Hélio Oiticica
- Nós estamos abertos a ter a obra de Hélio Oiticica sob o comando do poder público, em comodato sob responsabilidade nossa. Espero apenas que esse acordo seja possível de ser feito, que é uma coisa que até agora a gente não conseguiu. Da nossa parte, há a total disposição para a preservação, desde que isso tenha de fato a responsabilidade do poder público, porque o Centro Hélio Oiticica é um centro público, mesmo que esse acervo seja de propriedade da família.


Retirado de: O GLOBO

outubro 12, 2009

Pensamentos de Drummond de Andrade

"O homem vangloria-se de ter imitado o vôo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam."

"Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante."


"A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio."

"Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons."


"Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira."



outubro 10, 2009

Correio feminino

"As pessoas que se comprazem no sofrimento, que gostam de sentir-se infelizes e fazer aos outros infelizes, jamais poderão orgulhar-se de sua beleza. O mau humor, o sentimento de frustração, a amargura marcam a fisionomia, apagam o brilho dos olhos, cavam sulcos na face mais jovem, enfeiam qualquer rosto. Essa é a razão porque a mulher, que cultiva a beleza, deve esforçar-se para ser feliz. Felicidade é estado de alma, é atmosfera, não depende de fatos ou circunstâncias externas.”


Clarice Lispector

No Meio do caminho...

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Drummond de Andrade

Na Revista de Antropofagia publicou, em 1928, "NO MEIO DO CAMINHO".

outubro 03, 2009

Saudade



Hei de viver feliz se acreditares,


Tu que, como fogo, em mim ardes,


Sempre que sozinho me deixares,


Que sempre de ti, amor, sentirei saudades,





Pois sem ti me sinto sem verdades,


Hei de viver bem se em mim confiares,


Sempre de ti, meu amor, sentirei saudades,


Deixas-me, pois segurar os teus pilares.





Linda minha, se inventares,


Tu que és diva de minhas realidades,


De deixar-me às minhas vontades,


Estarei contigo a respirar teus ares,





Ares campestres ou das cidades,


Se feliz me acompanhares,


Pelos céus e pelos mares,


Ainda assim, meu amor, de ti sentirei saudades.

Hadson José

____________________________________





VOCÊ

Você


Nem das estrelas mais brilhantes viu luz tão ofuscante.
Mesmo que o espaço agora distante,
Faz-se de tristeza torturante.
Mesmo assim, tu me saíste apaixonante.


Da luz que outrora teus olhos ilumina,
Iluminou minh´alma. Fez-me perceber a menina,
Fiz-me escravo desta minha sina,
Imperatriz marcante da mente minha.


Do teu sorriso pude perceber,
Sem nem ao menos merecer,
Vi o poder de me fazer tremer,
Tal sorriso que me fez estremecer.


Quero contigo estar,
Fazer teu coração vibrar,
Com tua alma me encantar,
Ensina-la a essência do verbo Amar.




Hadson José

Meus pensamentos aturdidos


Meus pensamentos aturdidos,


Outrora certeiro no que queria,


Hoje já não sabe o que quer.


Viver na ausência de teu beijo,


E na visão de teu sorriso.





Meu sorriso, nos lábios, não se encontram mais.


Minha calma na alma não reina mais.


Perdido estou.


No labirinto de tuas mãos quero me encontrar.


Quero ser a parcela da tua vida,


E você ser a minha eterna flor.





Da clareza de tua pele quero o cheiro,


Apaixonar-me mais e mais,


Do teus olhos quero a certeza.


A vontade de estar e ser.





Dê-me a possibilidade da paixão,


Pois do amor, penso ser pura ilusão.


Quero contigo desvendar a arquitetura do amor,


Ser o mestre da obra de tua vida.





Construir a simplicidade de amar,


Ser o alicerce de teus sonhos,


A viga mestre de teus desejos,


A liga que une tua alma a minha.

Hadson José


__________________________________________


Este poema foi escrito pelo meu docente de Física. 



O Albatroz Azul

João Ubaldo - O Albatroz Azul


Depois de vencer a depressão e o alcoolismo, o escritor baiano ressurge renovado com o solar - e ótimo - O Albatroz Azul

Por Cristiane Costa

Sete anos separam o soturno Diário do Farol do solar O Albatroz Azul. Entre o último romance, publicado em 2002, e o mais novo, que chega às livrarias neste mês, João Ubaldo Ribeiro viu a vida lhe sorrir. Nesse período, o escritor de 68 anos ganhou o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, teve seu passe disputado por várias editoras num vultoso leilão, saiu de uma profunda depressão e venceu o alcoolismo. Hoje, esbanja vitalidade e já fala até em parar de fumar. O humor que perpassa as páginas de O Albatroz Azul, uma volta ao universo e aos tipos inesquecíveis de sua lendária Itaparica, reflete esse momento. O escritor está de bem com a vida.
(...)

Continue a ler em: Revista BRAVO!


setembro 29, 2009

A hora da estrela



Rascunho de A HORA DA ESTRELA.


( Acervo Clrarice Lispector Casa Rui Barbosa)

setembro 27, 2009

Diálogo solto

–– Tu não me queres!



–– Tu nunca me quisestes!


–– E tu sabes disso! Sempre soube...


–– Não venha falar-me bobagens, Dolores.


–– Bobagens? Achas tu que estou a dizer bobagens?! Olha a ti mesmo. Veja como estás... Degrada-te a cada dia.


–– Sempre amei a ti. Tu nunca me quiseres. Sempre brincastes com meus sentimentos.


–– Tu não percebes que teu problema não é no coração; teu problema sempre foi outro... Teu problema é tua cabeça, pois ela nunca foi habitada pela razão.


–– Por que, Dolores? Por que fazes isto comigo?


–– Nunca te fiz nada... Tu quem me fizestes e ainda me fazes coisas ruins. E se quiseres... Toma-me a força... Pois sabes muito bem que nunca habitará meu coração, nunca vais conseguir.


–– Tu que sempre me obrigaste a ter atitudes impensáveis!


–– Não consegues, ao menos uma vez, admitir que és culpado?


–– Eu não quero mais conversa. Deita aí... Pois que tu já não mereces o meu respeito!


setembro 20, 2009

Absorta

Em meus pensamentos me fixo
Outra vez absorta
Quando será que paro com isto?

Estas vozes me deixam enlouquecida
Novamente estou estática
Escuto apenas o que está aqui

Nos sonhos te vejo
Vitória-régia de destino
Parece até lenda

Lenda de pensamentos meus
Que aquele menino já não é mais menino
Aquele menino virou flor

Isto o que é? pensamento?
Isto é o que? sonho?
Afinal sonho ou penso?

Acordei!
Era sonho então!
Fiquei presa até lá
Naquela imensidão

Uma pedra é uma pedra

Uma pedra é uma pedra

uma pedra
(diz
o filósofo, existe
em si,
não para si
como nós)
uma pedra
é uma pedra
matéria densa
sem qualquer luz
não pensa
ela é somente sua
materialidade
de cousa:
não ousa
enquanto o homem é uma
aflição
que repousa
num corpo
que ele
de certo modo
nega
pois que esse corpo morre
e se apaga
e assim
o homem tenta
livrar-se do fim
que o atormenta
e se inventa 


Ferreira Gullar 
Retirado de: Substantivo plural


setembro 12, 2009

Quem diz que Amor é falso...

Soneto
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
 
Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.


Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.


Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

... ideia? ... verdade? ... sonho ... ou realidade?





Acho que recebo merecida paga
Por tantos males causados
Por tal coração mal enamorado
E então... Eu não posso nem ficar ao seu lado
Como se te amar fosse pecado
Como se te querer fosse errado
Por que tal amor tão idealizado?